As cidades portuárias ocupam posição estratégica na descarbonização da economia, mas geralmente seus portos não estão contemplados nos planos climáticos urbanos. Nosso newsletter destaca como a integração dos portos às ações de mitigação e adaptação climática pode gerar benefícios econômicos e climáticos. O texto analisa caminhos para uma transição energética eficiente, resiliente e estruturada no setor portuário.
Transição energética e o papel dos portos na redução de emissões dos gases de efeito estufa
As cidades portuárias enfrentam um desafio crucial: equilibrar a relevância econômica dos portos com a urgência de reduzir suas emissões. Felizmente, há uma oportunidade singular para ganhos econômicos e climáticos nessa transição.
Atualmente, o setor global de portos e de transporte marítimo é quase totalmente movido a combustíveis fósseis, sendo responsável por cerca de 2 a 3% das emissões globais — cifra equivalente à aviação (link).
Embora as cidades portuárias e as autoridades portuárias operem sob diferentes modelos de governança, ambos fazem parte de um mesmo ecossistema. No entanto, os portos e a navegação muitas vezes não são integrados aos inventários municipais de gases de efeito estufa (GEE) e aos planos de ação climática (PACs), sobretudo quando os portos têm autonomia administrativa.
Integração nos PACs municipais
Incluir portos e navios nos PACs é fundamental. As atividades portuárias dependem historicamente de equipamentos, veículos e embarcações movidos a combustíveis fósseis.
Uma estratégia eficiente é estimular os portos a elaborar inventários próprios de emissões, incluindo as chamadas emissões de Escopo 3 (emissões indiretas, como as dos fornecedores e da logística associada). Esse inventário serve como referência para estabelecer metas ambiciosas e monitorar avanços. A Organização Marítima Internacional (IMO) disponibiliza o Port Emissions Toolkit, que orienta detalhadamente como planejar e executar essas avaliações (link).
Um exemplo é o Porto de Oslo que em 2017 divulgou inventários de Escopo 1, 2 e 3 e estabeleceu a meta de redução de 85% das emissões de Escopo 3 até 2030, com objetivo de atingir portos de emissão zero. Outro exemplo é o Porto de Roterdã, com base em inventário de 2022 conforme o Greenhouse Gas Protocol, fixou metas específicas de redução — com compensações via créditos de carbono para neutralização de Escopos 1, 2 e 3.
Infraestrutura e armazenamento de energia
Portos têm potencial para abrigar sistemas de bateria em grande escala, equilibrando oferta e demanda energética urbana. Baterias instaladas no local podem fornecer energia estável para navios e veículos elétricos atracados, evitando sobrecargas na rede. Além disso, ao integrar geração renovável e armazenamento, os portos podem gerar receita adicional, vendendo energia excedente à cidade e prestando serviços auxiliares à rede elétrica.
Adaptação e resiliência
Além das ações de mitigação, é imperativo que os portos fortaleçam sua resiliência frente a eventos extremos e elevação do nível do mar. Localizados em zonas costeiras e inseridos em cadeias logísticas globalizadas, os portos estão entre os mais vulneráveis aos impactos climáticos.
Esses riscos se refletem em possíveis interrupções operacionais e danos estruturais. Em resposta, é recomendável desenvolver um plano de adaptação paralelo ao de descarbonização. Este plano deve incorporar medidas para enfrentar inundações, tempestades, correntes intensas, ventos extremos e possíveis dificuldades no abastecimento de água.
O relatório Climate Risks and Ports: A practical guide on strengthening resilience, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), é uma referência prática para planejamento de adaptação (link). No mesmo sentido, em 2024, a CEPAL publicou estudo sobre portos latino‑americanos e caribenhos, destacando vigilância de riscos climáticos e opções de adaptação específicas para infraestrutura portuária (link).
Incentivos para descarbonização
Para viabilizar a adoção de tecnologias de carbono zero, devem ser oferecidos incentivos financeiros. Essas medidas — como subsídios, concessões, créditos fiscais e empréstimos a juro baixo — garantem viabilidade econômica aos investimentos exigidos por infraestrutura limpa.
Além disso, iniciativas inovadoras como desafios tecnológicos, incubadoras de startups e financiamentos de projetos-piloto podem estimular a adoção privada de soluções limpas nos portos, atraindo capital de longo prazo.
Pontos de atenção
Diante da crescente pressão por soluções sustentáveis, a transição energética nos portos representa não apenas um imperativo climático, mas também uma oportunidade estratégica para modernização da infraestrutura e fortalecimento da governança urbana.
A integração de ações de mitigação, adaptação e inovação tecnológica exige o suporte de marcos jurídicos sólidos, capazes de orientar investimentos, contratos, licenciamento e políticas públicas de forma coerente com os compromissos climáticos nacionais e internacionais.
Nesse contexto, destaca-se a importância de uma assessoria regulatória e institucional que apoie a adaptação e integração dos portos aos marcos de descarbonização e políticas públicas de transição energética.
Nossa equipe de energia está à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas.